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30
Nov
2025
Venezuela chama de 'ameaça colonialista' anúncio de Trump de fechar seu espaço aéreo

Venezuela chama de 'ameaça colonialista' anúncio de Trump de fechar seu espaço aéreo

A tensão entre Estados Unidos e Venezuela segue aumentando em meio às manobras militares que as Forças Armadas americanas realizam há duas semanas no Caribe com a mobilização de milhares de militares e do maior porta-aviões do mundo.

Neste sábado (29/11), o presidente americano, Donald Trump, anunciou que o espaço aéreo "sobre" e "nos arredores" da Venezuela será fechado "por completo".

"A todas as companhias aéreas, pilotos, narcotraficantes e traficantes de pessoas: por favor considerem o espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela fechados em sua totalidade", escreveu na rede social Truth Social.

O governo venezuelano acusou Trump de fazer uma "ameaça colonialista". O Ministério das Relações Exteriores classificou a declaração como "mais uma agressão extravagante, ilegal e injustificada contra o povo venezuelano".

Apesar do tom, os EUA não têm autoridade legal para fechar o espaço aéreo de outro país, mas a postagem de Trump pode gerar incerteza entre viajantes e desestimular companhias aéreas a operar na região.

O anúncio acontece poucos dias após a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) alertar empresas aéreas para a "intensificação da atividade militar em e ao redor da Venezuela".

Na quarta-feira (26/11), Caracas havia proibido seis grandes companhias internacionais ? Iberia, TAP Portugal, Gol, Latam, Avianca e Turkish Airlines ? de pousar no país por não cumprirem o prazo de 48 horas para retomar voos.

Paralelamente, os EUA reforçam sua presença militar no Caribe. O país enviou o USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, além de cerca de 15 mil militares ? o maior deslocamento americano na região desde a invasão do Panamá, em 1989. Washington afirma que a operação pretende combater o tráfico de drogas.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, rejeita essa justificativa e diz que Washington tenta derrubá-lo.

Trump declarou que os esforços dos EUA para deter o narcotráfico venezuelano "por terra" começariam "muito em breve".

Desde o início de setembro, forças navais dos EUA realizaram pelo menos 21 ataques contra embarcações que, segundo elas, transportavam drogas no Pacífico e, principalmente, no Caribe. As ações mataram mais de 80 pessoas.

Autoridades americanas não apresentaram provas de que os barcos carregavam entorpecentes, e organizações de direitos humanos classificaram parte das operações como possíveis "execuções extrajudiciais" que violam o direito internacional.

Para o governo venezuelano, a intensificação das ações militares evidencia uma tentativa dos EUA de destituir Maduro ? cuja reeleição, no ano passado, foi denunciada pela oposição e por diversos países como fraudulenta.

Washington designou o Cartel de los Soles ? que afirma ser liderado por Maduro ? como organização terrorista estrangeira, o que amplia os poderes de órgãos de segurança e das Forças Armadas dos EUA para agir contra o grupo.

Caracas "rejeitou categórica, firme e absolutamente" a classificação. Diosdado Cabello, ministro venezuelano do Interior e apontado como um dos principais integrantes do cartel, afirma há anos que a organização é uma "invenção".

O Departamento de Estado dos EUA, porém, insiste que o Cartel de los Soles não só existe como "corrompeu as Forças Armadas, a inteligência, o Legislativo e o Judiciário da Venezuela".

Até o momento, a Casa Branca não respondeu ao pedido de comentário da BBC.

Milhares de passageiros já foram afetados por suspensão de voos na Venezuela nos últimos dias

Tráfego aéreo paralisado

Milhares de passageiros ficaram em terra após a suspensão dos voos de e para a Venezuela.

O tráfego aéreo no país está severamente afetado há uma semana, desde que a autoridade de aviação dos EUA (FAA) emitiu um alerta recomendando cautela às companhias aéreas para operar no espaço aéreo venezuelano, "devido ao agravamento da situação de segurança e ao aumento da atividade militar em ou ao redor da Venezuela".

"As ameaças podem representar um risco potencial para aeronaves em todas as altitudes ? incluindo sobrevoos, pousos, decolagens e até para aeroportos e aeronaves em solo", afirmou a FAA no comunicado divulgado na semana passada.

O alerta levou empresas como Iberia, Air Europa, Latam, Avianca, TAP, Plus Ultra e Turkish Airlines a suspenderem suas operações no país.

Em resposta, o Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (INAC) deu às companhias um prazo de 48 horas para retomar os voos, sob ameaça de revogar os direitos de tráfego ? autorizações que permitem pousos e decolagens. Como não houve retorno, o INAC revogou, na quinta-feira, as autorizações de Iberia, TAP, Avianca, Latam Colômbia, Turkish Airlines e Gol.

Segundo a agência espanhola EFE, milhares de passageiros foram retidos na Venezuela e no exterior. O número total de voos de/para o país caiu 24,7%, passando de 105 para 79 por semana.

Os destinos que permanecem oficialmente ativos incluem México (Santa Lucía e Cancún), Colômbia (Bogotá), Panamá, Peru (Lima), Curaçao, Cuba (Havana), São Vicente e Granadinas, e Barbados.

A estatal venezuelana Conviasa também mantém rotas para China (Cantão), Rússia (Moscou e São Petersburgo) e Varadero (Cuba), segundo seu site.

Mensagens contraditórias

Apesar da escalada retórica, os sinais enviados por Washington e Caracas até a tarde deste sábado continuam contraditórios.

Dois dias antes de anunciar o fechamento do espaço aéreo, Trump havia afirmado que os EUA começariam "muito em breve" a deter "narcotraficantes" venezuelanos "por terra". A declaração foi feita durante uma audiência virtual com militares no Dia de Ação de Graças.

Horas depois, porém, o New York Times revelou que Trump conversou por telefone com Nicolás Maduro.

Segundo o jornal, que cita fontes anônimas, a ligação ocorreu na semana anterior, e ambos discutiram a possibilidade de uma reunião presencial. A chamada teria contado com a participação do secretário de Estado, Marco Rubio, e se deu pouco antes de o Departamento de Estado classificar Maduro como líder do Cartel de los Soles, definido como "organização terrorista".

Alguns meios de comunicação nos EUA observaram que um anúncio como o feito por Trump ? de fechamento total do espaço aéreo ? costuma anteceder campanhas de bombardeios.

De acordo com o New York Times, pessoas familiarizadas com as discussões internas afirmaram que, caso houvesse ataques, os primeiros alvos poderiam ser instalações ligadas ao narcotráfico usadas por cartéis colombianos dentro da Venezuela.

"Outras opções incluíam instalações petrolíferas. Esses ataques poderiam ser justificados como parte de uma iniciativa antidrogas, embora provavelmente visassem enfraquecer o controle de Maduro sobre o poder, cortando fontes de financiamento e aumentando drasticamente a pressão sobre ele", escreveu o jornal.

Fonte: BBC News Brasil/Aoife Walsh, da BBC News em Washington

Foto: BBC News Brasil/Getty Images

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